sábado, 11 de julho de 2015

Lição 2 - O Evangelho da Graça


Introdução

   Paulo sempre expressava um zelo pelo rebanho de Deus em questão aos "lobos cruéis" que poderiam adentrar no aprisco vestido como ovelha. Um exemplo desse zelo é para com a igreja de Éfeso. Na sua despedida, Paulo expressou este sentimento(At 20.29,30). Mesmo assim enviou o jovem pastor Timóteo à Éfeso para combater esses falsos mestres que queriam "devorar" o rebanho. Infelizmente hoje em dia tem se espalhado líderes mentirosos, falsos, vestido como ovelha, pervertendo a sã doutrina matando ou dispersando ovelhas.

I - As Falsas Doutrinas Corrompem o Evangelho da Graça

   A graça é um dos mais significativos conceitos da Escritura. Pode ser definida como "as ações livres de Deus, com base na morte de Jesus motivada pelo amor, para redimir os que crerem afim de fazê-los justos". Deus agiu em Cristo para desvelar uma justiça que não tem relação alguma com a lei ou com as obras humanas, mas que é concebida gratuitamente por Deus em decorrência da fé em Jesus(Ef 2.8). A graça é concebida aos que a aceitam. Isso acontece pela fé, mas a fé não possui a salvação por méritos, como se ter fé conferisse algum crédito. Nenhuma atividade humana pode resultar em salvação, é dádiva de Deus. O cristão não se gloria em nada, a não ser em Cristo(Ef 2.9). Esse é o Evangelho da graça ao qual Paulo se referiu em Atos dos Apóstolos 20.24. A referência de Paulo ao Evangelho ao qual foi encarregado o leva a relembrar, com espanto e gratidão, sua experiência da graça superabundante de Deus, como resultado da qual foi transformado de inimigo amargurado de Cristo para um apóstolo dEle. Ao lembrar Timóteo e a igreja efésia de modo geral acerca da sua posição apostólica, também transmite um indício, para o benefício daquele, do poder ilimitado do Evangelho para transformar pecadores e fortalece-los para a obra de Deus(1Tm 1.12-14).
   A igreja de Éfeso estava ameaçada por falsas doutrinas e corria sérios riscos em virtude da infiltração de perigosas heresias. Nada é mais nocivo para a saúde espiritual da igreja do que as falsas doutrinas. Ninguém é mais perigoso para a igreja do que os falsos mestres. Esses falsos mestres provavelmente eram presbíteros o qual o ensino era a responsabilidade deles, e, como os oficias executivos principais, a pregação deve ter sido deles também. Esses que precisavam de repreensão estava erroneamente concentrando sua atenção em fábulas e genealogias intermináveis, provavelmente de origem judaica. O termo fábulas transmite a noção de que essas ideias eram invenções deles mesmos., carecendo totalmente de qualquer fundamento nas Escrituras. O termo genealogias é usado com um sentido mais amplo do que geralmente lhe é atribuído e descreve interpretações insensatas e exageradas da história do Antigo Testamento, possivelmente mescladas com noções filosóficas do gnosticismo. Elas são descritas como intermináveis, pois as pessoas que perambulam ao longo desses estranhos desvios se encontram num interminável labirinto que não conduz a lugar algum. Todas as heresias têm fundamentalmente em comum o fato de que provocam e multiplicam vãs discussões e discórdias em torno de palavras, assim tornando a fé insegura porque desviam do objetivo principal. Tem-se observado corretamente que o ensino de uma pessoa deve ser julgado por seus frutos. Tudo o que deixa de promover a administração deveria ser rejeitado ainda quando não tivesse outra falha. E tudo o que não gera outra coisa senão disputas merece dupla condenação(1Tm 1.3,4).
   Alguns que se estabeleceram como mestres da lei se desviaram do objetivo maior do mandamento, eles se estabeleceram como mestres, mas tinham a pretensão de ensinar aos outros o que eles mesmos não compreendiam. Paulo ensina a Timóteo que precisamos combater o erro sem machucar as pessoas. A defesa da verdade não pode ocorrer em prejuízo do amor. A verdade precisa ser dita em amor, e o amor precisa acompanhar a ortodoxia. Paulo mede os ensinos daqueles que Timóteo deve repreender. Em evidente ignorância, eles estavam discorrendo detalhadamente sobre a lei. Mesclando-a com fábulas e interpretações esquisitas, estavam dando um sentido falso ao seu verdadeiro propósito(1Tm 1.5,6). Paulo destaca o significado primordial da lei, ela existe para combater o avanço do pecado. A lei não é destinada para os justos, mas para pessoas sem lei. Se sou tão bom que de forma natural guardo a lei, não necessito de lei. A lei de Moisés visava levar os pecadores a ponto de se sentirem totalmente quebrantados sob o fardo dos seus pecados. Paulo anexa um catálogo de alguns males aberrantes proibidos pela lei mosaica. Assim, pregar a lei para tornar os homens conscientes da sua pecaminosidade é usá-la corretamente, é um uso que está em concordância com o glorioso Evangelho(1Tm 1.8-11).

II - A Graça Superabundou com a Fé e o Amor

   Quando Paulo acrescenta às palavras introdutórias uma expressão de sincera e humilde gratidão a Deus, ele está seguindo um costume(Rm 1.8;1Co 1.4;2Co 1.3;Ef 1.3;Fp 1.3;Cl 1.3;1Ts 1.2;2Ts 1.3; 1Tm 1.12;2Tm 1.3;Fm 4). O que Paulo expressa não é um júbilo momentâneo e um ato de gratidão, mas uma atitude que se tornou disposição fundamental de seu ser perante Jesus Cristo, ao qual define como nosso Senhor, confessando assim que Jesus deseja tornar-se motivo de louvor não apenas para ele, mas para todos os que crêem nEle. A vontade de Deus para a nossa vida é que seja enaltecida sua gloriosa graça, que nos foi concedida através de Seu Filho amado. A graça inundou com fé o coração de Paulo, um coração que antes estava cheio de incredulidade e inundou com amor um coração anteriormente poluído pelo ódio. Foi uma escolha fundamentada na presciência de Deus de que ele seria fiel, tanto como apóstolo quanto como mordomo do Evangelho. Essa demonstração da graça de Deus para com ele é intensificada, assim ele ressalta, pelo fato de que foi revelada a alguém que anteriormente havia sido blasfemo, perseguidor e insolente(1Tm 1.12-14). Aquele que estava no mais baixo nível do pecado, agora é nova criatura(2Co 5.17) e participante da família de Deus(Ef 2.19).
   Paulo louva a graça de Deus ao declarar que ela foi concedida generosamente a ele, o pior dos pecadores. Seu perdão, cheio de misericórdia, não se origina nele, como se tivesse algum mérito que predispusesse e muito menos que forçasse Deus a mostrar misericórdia, mas procede do caráter dEle, que é misericordioso, a quem pertence sempre a misericórdia(1Tm 1.15). Ser nascido de Deus é ser renovado interiormente e restaurado a uma integridade ou retidão santa de natureza pelo poder do Espírito de Deus. Alguém assim não comete pecado, não põe em prática a iniquidade nem pratica a desobediência, que é contrária a sua nova natureza e ao caráter regenerado do seu espírito. Ele não pode pecar de modo a ser denominado um pecador em oposição a um santo ou servo de Deus(1Jo 3.9).

III - Um Convite a Combater o Bom Combate

   Até aqui, Paulo havia se referido aos mestres da lei e ao falso evangelho deles, como também a si mesmo na condição de apóstolo e no verdadeiro Evangelho. Agora, compete a Timóteo tomar posição. Paulo começa descrevendo o contexto no qual ele está escrevendo. Ele faz com que Timóteo se lembre tanto do relacionamento de pai e filho que em especial os une, como também das circunstâncias da ordenação dele(1Tm 1.18). As profecias que foram ditas havia muito tempo, referentes a Timóteo, são aqui mencionadas como um motivo para incentivá-lo à execução vigorosa e consciente do seu dever, militar a boa milícia.
   Devemos conservar tanto a fé quanto a boa consciência(1Tm 1.19). Aqueles que descartam a boa consciência logo naufragam na fé. Em Éfeso, os líderes entre os náufragos era Himeneu e Alexandre. O nome do primeiro deriva-se de Hímen, o deus do matrimônio. Himeneu também é mencionado em 2 Timóteo 2.17. Junto com ele se menciona Alexandre, que significa "defensor dos homens". O Himeneu e Alexandre de quem Paulo faz referência aqui eram líderes entre os hereges efésios. Tão longe tinham ido esses mestres da heresia em seu erro, que chegavam a vituperar a verdadeira apresentação do Evangelho. Por isso Paulo os entregou a Satanás. A expressão "entreguei a Satanás" refere-se ao processo disciplinar que era comum tanto na sinagoga como na igreja de Deus(1Co 5.5). Não obstante, quando se chegou a tomar tal medida extrema, seu propósito era curativo. O objetivo não era prejudicar, mas recuperar, "a fim de que sejam disciplinados(2Tm 2.25) a não blasfemar". O apóstolo está sinceramente desejoso de que a disciplina, a pedagogia divina, imposta exerça um efeito saudável em Himeneu e Alexandre. Ele nutre esperança e está orando para que, por meio dessa lamentável aflição, esses falsos mestres possam chegar a um arrependimento genuíno, de modo que já não mais caçoem da verdade e não blasfemem contra o seu autor.

Conclusão

   O cristianismo nasceu em meio a perseguições tanto externa como interna. Enquanto Roma e os líderes religiosos judeus afligiam os irmãos com açoites e mortes, várias igrejas, incluindo Éfeso, lutavam contra as heresias que queriam se alojar no seio da comunidade cristã. O apóstolo Paulo juntamente com Timóteo, Tito e outros homens fiéis combateram com veemência e disciplina a ação desses "lobos vorazes".

Bibliografia


  • Henry, Matthew - Comentário Bíblico Novo Testamento(Atos a Apocalipse) - Rio de Janeiro/RJ: CPAD,2010.
  • Lopes, Hernandes Dias - 1º Timóteo: O Pastor, a sua Vida e sua Obra - São Paulo/SP: Hagnos,2014(Comentários Expositivos Hagnos)
  • Stott, Jonh R. W. - A Mensagem de 1º Timóteo e Tito: A Vida da Igreja Local: A Doutrina e o Dever - São Paulo/SP: ABU Editora,2004(A Bíblia Fala Hoje)
  • Bruce, F. F. - Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - São Paulo/SP: Editora Vida,2009.
  • Kelly, J. N. D. - 1º e 2º Timóteo e Tito: Introdução e Comentário - São Paulo/SP: Vida Nova,2011(Série Cultura Bíblica)
  • Hendriksen, William - Comentário do Novo Testamento: 1º Timóteo, 2º Timóteo, Tito - São Paulo/SP: Cultura Cristã,2011.
  • Boor, Werner de - Cartas aos Tessalonicenses, Timóteo, Tito e Filemon - Curitiba/PR: Editora Evangélica Esperança, 2007(Comentário Esperança).
  • Richards, Lawrence O. - Guia do Leitor da Bíblia: uma análise de Genesis a Apocalipse capítulo por capítulo - Rio de Janeiro/RJ: CPAD,2010. 

  • Nenhum comentário:

    Postar um comentário