domingo, 5 de julho de 2015

Lição 1 - Uma Mensagem à Igreja Local e à Liderança

Introdução

   Escrever cartas era algo comum na época apostólica. Temos treze cartas no Novo Testamento que trazem a assinatura de Paulo. A ordem em que estão dispostas as cartas de Paulo no Novo Testamento em geral segue a sua extensão. Se as reordenarmos em sequência cronológica, encaixando-as na medida do possível no seu contexto de acordo com o registro de Atos dos Apóstolos, elas começam a revelar mais dos seus tesouro
s, tornam-se auto-explicativas em maior medida do que se esse contexto for ignorado. As cartas podem ser classificadas em quatro grupos, e essa talvez seja a forma mais comum de tratá-las. Os critérios para isso são o tópico tratado e o estilo usado. Se aceitarmos essa classificação, podemos ordená-las da seguinte maneira:

  1. Escatológicas: 1 e 2 Tessalonicenses
  2. Evangélicas: 1 e 2 Coríntios, Gálatas e Romanos
  3. Da prisão: Efésios, Colossenses, Filemon e Filipenses
   A quarta e a última parte das epístolas paulinas são chamadas cartas pastorais, pois foram escritas a pastores, a líderes de igrejas. O caráter dessas cartas é eclesiástico, isso quer dizer que o conteúdo delas trata da igreja cristã, dos seus líderes, dos seus membros, da sua função e da sua missão. A este grupo de cartas pertencem as duas a Timóteo e a dirigida a Tito. Embora as cartas tenham sido endereçadas a Timóteo e Tito e contenham orientações pessoais, elas foram claramente escritas para o benefício das igrejas associadas a eles. Estão cheias de declarações esplêndidas da verdade cristã e de chamadas inspiradoras do testemunho cristão. As cartas pastorais ultrapassam seu propósito a priori de serem destinadas apenas a dois jovens obreiros. Foram, na verdade, cartas que se tornaram autênticos manuais eclesiásticos por assim dizer, para as igrejas cristãs em seus primórdios, bem como, sem qualquer impropriedade, para as igrejas dos tempos atuais.
 
I - As Epístolas Pastorais

   As três cartas para pastores são dirigidas pelo pastor Paulo aos pastores Timóteo e Tito, e por meio desses dois, aos pastores das igrejas em redor de Éfeso e na Ilha de Creta. Estas três cartas, que formam um grupo distinto na coletânea paulina, declaram ser comunicações do grande Apóstolo enviadas a dois dos seus lugares-tenentes da maior confiança. Receberam o título de "pastorais" desde o início do século XVIII porque estão endereçadas a pastores e, em grande medida, dizem respeito aos deveres deles. Se forem tomadas por aquilo que ostentam ser, as Epístolas Pastorais têm, assim, um interesse e uma importância especiais. Como cartas, diferem da maioria das paulinas, sendo escritas a indivíduos mais do que a igrejas, e diferem de Filemon porque seu caráter é oficial, em vários graus, e não exclusivamente pessoal. Mostra-nos alguma coisa acerca dos seus relacionamentos com seus colegas mais íntimos e responsáveis, e ilustra sua solicitude pelos arranjos administrativos, sua abordagem aos problemas práticos, e as novas ênfases na sua teologia posterior. Além disto, oferecem relances fascinantes da vida e da organização da igreja, e das distorções doutrinárias contra as quais tinha de lutar, na década dos sessenta, no século I.
   Existem muitas interpretações acerca da data ao qual as pastorais foram escritas. O que todos os historiadores concordam é que, estas cartas foram escritas entre 63 e 67 d.C. A primeira epístola a Timóteo foi escrita por volta de 63/64 d.C., entre a primeira e a segunda prisão de Paulo, enviada provavelmente da Macedônia. Pouco tempo depois escreveu a Tito, por volta de 65 d.C., e em 67 d.C, antes da sua morte, na sua segunda prisão em Roma, ele envia a segunda carta à Timóteo. Esta última também faz parte do grupo das "cartas da prisão", juntamente com Filipenses, Efésios, Colossenses e Filemon.
   Apesar de essas epístolas serem escritas a duas pessoas distintas e em situações diferentes, percebemos que ela contém um mesmo conteúdo doutrinário e devocional, em que o vocabulário é semelhante. O propósito ao qual foram escritas é o mesmo, assim como o seu estilo. Foram montadas com objetivo de aplicar grandes ensinos e despertamento da parte de Deus. Podemos ver seu conteúdo da seguinte forma:
  1. Saudação(1Tm 1.2; 2Tm 1.1,2; Tt 1.1-4).
  2. Qualificações ministeriais(1Tm 3.1-13; Tt 1.5-9).
  3. Alerta contra os falsos mestres e as falsas doutrinas(1Tm 4.1-5; Tt 1.10-16).
  4. O cuidado com a "sã doutrina"(1Tm 1.10;6.3; 2Tm 1.13;4.3; Tt 2.1).
  5. Comportamento e conselhos a diversos grupos(1 Tm 5.1-25; Tt 2.1-10).
 
II - Propósito e Mensagem

   Era um toque verdadeiramente paulino que o líder cristão fosse um modelo aos outros(Fp 3.17; 2Ts 3,9). Paulo alerta para o fato de os falsos mestres estarem negando o que a igreja confessa. Dois são os tópicos que Paulo desenvolve: o primeiro é como o ensino falso pode ser detectado e desmascarado, apesar de aparentemente verdadeiro(1Tm 4.1-10), e o segundo, como o ensino verdadeiro pode ser aceito e aprovado(1Tm 4.11-5.2). Um ministro garante o respeito não pelo uso arbitrário da autoridade, mas ao se tornar exemplo. As críticas são silenciadas de forma satisfatória somente pela conduta. As qualificações de uma pessoa para a responsabilidade de liderança na igreja de Deus não é a idade, mas sim o caráter(1Tm 4.12). Paulo faz uma analogia entre a família do pastor e a igreja de Deus. O pastor é chamado a exercer liderança em duas famílias, a sua e a de Deus, e a primeira é onde ele é treinado para poder atuar na segunda(1Tm 3.1-13).
   Nas três cartas Paulo está grandemente preocupado com os hereges, conforme os considera, os quais mercadejam uma mensagem distinta, oposta ao evangelho verdadeiro, semeando contendas e dissensão e levando uma vida moralmente questionável. A característica mais óbvia da heresia é sua combinação de ingredientes judaicos e gnósticos. O gnosticismo fazia uma junção espúria da filosofia grega com o judaísmo. O gnosticismo oscilava entre os dois extremos: ascetismo de um lado e licenciosidade de outro. Por considerarem a matéria essencialmente má, negavam a criação, a encarnação e a ressurreição. Os falsos mestres procediam das alas do judaísmo. Sua heresia estava vinculada ao legalismo judeu. Entre seus devotos encontravam-se os que pertenciam a circuncisão(Tt 1.10). A finalidade dos hereges era de serem mestres da lei(1Tm 1.7). Eles procuravam inculcar nas pessoas fábulas judaicas e mandamentos de homens(Tt 1.14). Paulo nos dá uma maravilhosa instrução com respeito ao falso ensino. Sua característica básica é o desvio da verdade revelada. Seus desastrosos resultados são que eles substituem a fé pela especulação e amor de Deus pela dissenção. Sua causa fundamental é a rejeição da boa consciência diante de Deus.

III - Uma Mensagem Para a Igreja Local e a Liderança da Atualidade

   O "evangelho" da prosperidade é a heresia mais propagada dos nossos dias. Uma junção de que o homem é  um "deus", assim como Jesus era, e, confissão positiva ao qual declara que tudo que dissermos tornar-se-á realidade. Esse ensinamento é contrário à tudo que a Palavra de Deus declara. O ensinamento da teologia da prosperidade é regada pelo orgulho, presunção e soberba, e estas coisas são abomináveis a face do altíssimo(Pv 6.16-19). Somos criaturas frágeis e desprezíveis, por isso, necessitamos de Deus e vivermos para Ele, pois sem Ele, que é dono de toda honra e glória, nada somos.
   A expressão últimos tempos não se refere apenas a um período escatológico do fim, mas compreende todo período da era cristã, inaugurado por Jesus em sua primeira vinda e que se consumará na segunda. Esse tempo do fim será caracterizado pela manifestação de falsos profetas(Mt 24.11) e falsos cristos que enganarão a muitos(Mc 13.22), culminando na apostasia e na manifestação do homem da iniquidade(2Ts 2.4). A apostasia não pode ser confundida com perda de salvação, nem nega a perseverança dos santos. Significa que, por influências dos falsos mestres, muitas pessoas que outrora professaram a fé cristã abandonarão essa confissão. Os líderes são chamados essencialmente para um ministério de mestre, que necessita tanto do dom de ensino como de ser leal a mensagem bíblica. Somente se eles forem mestres na comunicação da mensagem é que terão condições de instruir e exortar as pessoas na verdade, como também de apontar, contradizer e acabar com todo erro. Se não perseverarmos na Palavra confiável da sã doutrina, ele mesmo também poderá ser contagiado. Mas, se enfrentar com toda a determinação a confusão por meio da palavra da verdade, isso redundará para os hereges em convalescença na fé. O alvo não é expulsá-los ou estigmatiza-los, mas curá-los!

IV - Mensagem Para a Liderança

   As qualificações para os ministros e para os diáconos são muito semelhantes. São as qualificações básicas que todos os líderes cristãos devem ter. Colocando as duas listas lado a lado, podemos notar que há cinco áreas principais a ser investigadas. Com respeito à própria pessoa, o candidato tem de ter domínio próprio e maturidade, inclusive nas áreas da bebida, do dinheiro, do temperamento e da língua. Com respeito a seus relacionamentos, ele tem de ser hospitaleiro e amável, com respeito aos de fora, muito respeitado. E com relação à fé, apegar-se firmemente à verdade e ter o dom de poder ensiná-la. O primeiro requisito de caráter geral é que o ministro seja irrepreensível(1Tm 3.2; Tt 1.6). Isso não significa "imune a erros", pois então não haveria um só filho de Adão que se qualificasse. Significa, porém, "ter reputação irrepreensível" e "tem a ver com uma conduta que se possa observar ser impecável". Isso dá um respaldo bíblico para se pedir referências ou testemunhos, de forma que a reputação pública de um candidato possa ser verificada. Podemos observar que das quinze qualificações exigidas para um homem ocupar o ministério da igreja, apenas um se refere à habilidade de ensino. A maioria são qualificações morais e apenas uma está relacionada à habilidade intelectual. As qualificações estão relacionadas com a personalidade, o caráter e o temperamento da pessoa(1Tm 3.1-12; Tt 1.5-9).
   O exemplo pessoal do ministro deve servir como arma poderosa contra o erro. O ministro deve esforçar-se de todas as formas possíveis, a fim de conduzir-se pessoalmente de tal modo que agora mesmo, perante o tribunal do juízo de Deus, ele seja aprovado, ou seja, como alguém que, depois de um exame completo por nenhum outro senão do Supremo Juiz, tenha a satisfação de saber que assim foi do seu agrado e o enaltece. Além do mais, sua obra deve ser de tal natureza que reflita vergonha sobre ele quando ouvir o veredicto divino a respeito. Pela sua vivência e testemunho o próprio ministro representa a arma mais forte contra os falsos mestres(2Tm 2.15). O apóstolo Paulo era um paradigma para os crentes tanto na questão da doutrina como na questão da ética. Ele era modelo tanto na teologia quanto na vida. Seu ensino e seu caráter eram aprovados. Sua vida confirmava sua doutrina, e sua doutrina norteava a sua vida(Fp 3.17; 1Co 11.1). Os ministros certamente pregam com mais proveito quando podem exigir de seus ouvintes que sigam seu exemplo.

Conclusão

   As cartas pastorais são de uma necessidade urgente de ser estudadas. As diretrizes em relação à igreja, o culto e a ordenação de obreiros e suas qualificações são indispensáveis para a atualidade.

Bibliografia

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  • Richards, Lawrence O. - Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento - Rio de Janeiro/RJ:CPAD,2010.
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  • Johansson, Carlo - Síntese Bíblica do Novo Testamento: Atos a Apocalipse - Rio de Janeiro/RJ:CPAD,1982(Coleção Ensino Teológico)
  • Hendriksen, William - Comentário do Novo Testamento: 1º Timóteo, 2º Timóteo, Tito - São Paulo/SP: Cultura Cristã,2011.
  • Boor, Werner de - Cartas aos Tessalonicenses, Timóteo, Tito e Filemon - Curitiba/PR: Editora Evangélica Esperança, 2007(Comentário Esperança) 



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